domingo, 5 de dezembro de 2010

Interdisciplinaridade: do que se trata?





Desta vez, trago um texto com uma proposta diferente, de teor mais técnico. O mesmo é de minha autoria, e foi pensado e escrito há dois anos em cumprimento a uma exigência acadêmica. Embora sucinto, penso que o mesmo poderá ser útil ao tratar um tema atual, importante e de interesse de muitos estudantes e profissionais; e que, apesar de ser bastante difundindo e utilizado - muitas vezes indiscriminadamente -, ainda desperta dúvidas e incita equívocos. A mim, particularmente, serviu para melhor compreender a questão da interdisciplinaridade e, principalmente, desfazer alguns equívocos em torno da mesma, o mais comum deles, o uso dos termos multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e  transdisciplinaridade como seus sinônimos. 


****


INTERDISCIPLINARIDADE: DO QUE SE TRATA?


Por Jacqueline de Melo e Silva




Pode-se dizer que a interdisciplinaridade atualmente consiste em um desses termos da moda, os quais são empregados indiscriminadamente, mas que a grande maioria não compreende ao certo o conceito. Pensa-se que umas das principais questões no tocante a essa temática reside justamente neste tópico, o do não entendimento do conceito, o que por sua vez implica questões ainda mais complexas, dentre elas, o uso de um conceito que não se traduz na prática, servindo apenas para maquiar aquilo a que se propõe questionar.


Entretanto, à medida que se avança na pesquisa sobre o tema interdisciplinaridade, e aqui me refiro de modo particular, torna-se mais compreensivo o motivo do mesmo suscitar discussões e divergências, bem como o fato de ser alvo de certa confusão quanto ao seu entendimento. Sem dúvida, trata-se de um tema complexo e não passível de simplificações e, frente à impossibilidade de abordar o mesmo de forma profunda, dada a minha condição de iniciante, busquei refleti-lo da forma mais inevitável, porém fundamental e imprescindível ao se tratar qualquer tema que seja: perguntar sobre o que se trata.


Entendendo que a intenção em responder a pergunta seja pretensiosa, busquei, então, a resposta naqueles que são considerados os responsáveis pela introdução do tema Interdisciplinaridade no Brasil, Japiassú e Ivani Fazenda, os quais afirmam que a interdisciplinaridade é a saída para o problema da disciplinaridade, esta que por eles é contextualizada como doença, a qual deve ser superada, ou curada, através da prática interdisciplinar (ALVES, BRASILEIRO E BRITO, 2004). Ao invés de me satisfazer com a resposta, só consegui encontrar outras perguntas, compreendi então, imediatamente, que não existiriam respostas que fossem totalmente completas ou me fornecessem o entendimento real do conceito.


No que diz respeito aos questionamentos que se acrescentaram, pergunto: o que seria então essa prática interdisciplinar? Segundo Carlos (2007), ela seria uma espécie de interação entre disciplinas ou áreas de saber. O autor alerta, porém, que a mesma pode ocorrer em vários níveis, de modo a explicar o surgimento de termos como multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, e transdisciplinaridade, estes que muitas vezes são usados de forma equivocada como sinônimos de interdisciplinaridade e igualmente usados de forma indiscriminada. Coloca ainda que o esclarecimento das distinções entre as terminologias poderá vir a contribuir para um uso mais cuidadoso dos referidos termos.


Em relação à classificação de tais terminologias, foi Japiassú também quem contribuiu nesse sentido ao fazer uma adaptação à classificação originalmente proposta por Eric Jantsch. Sendo assim, a multidisciplinaridade é colocada como primeiro nível de integração entre os conhecimentos disciplinares e consiste em uma ação simultânea de diversas disciplinas em torno de uma temática comum, sem que haja uma interação entre as mesmas. A pluridisciplinaridade, por sua vez, implica, diferentemente da situação anterior, um tipo de interação entre as disciplinas sem que estas apresentem algum tipo de coordenação no que diz respeito a um nível hierárquico superior; por isto, muitas vezes indiferenciada da multidisciplinaridade (CARLOS, 2007).


A interdisciplinaridade seria, portanto, o terceiro nível de interação consistindo no que, segundo Japiassú (apud CARLOS, 2007), caracteriza-se como a “presença de uma axiomática comum a um grupo de disciplinas conexas e definida no nível hierárquico imediatamente superior, o que introduz a noção de finalidade”. Por fim, a transdisciplinaridade estaria para além da interdisciplinaridade na medida em que se daria em uma coordenação entre as disciplinas e interdisciplinas sobre a base de um axioma geral.


Retomando os questionamentos, surgiu a dúvida se de fato a interdisciplinaridade deve pretender a uma superação e/ou cura da disciplinaridade. Discussão esta que embora fuja ao escopo da presente reflexão, é de suma importância na abordagem do tema. Penso que - aqui posiciono-me de modo particular - a despeito de quais sejam as opiniões - extremistas no sentido de enfatizar uma especialização contínua do conhecimento ou, por outro lado, uma generalização exagerada, e até mesmo aquelas que primam pelo equilíbrio destas -, um contraponto é sempre uma ideia sensata e necessária. Sabe-se que a interdisciplinaridade surgiu como uma necessidade de romper com a tendência fragmentadora e desarticulada do processo do conhecimento defendida pela racionalidade positivista de uma “verdade” científica; e pelo menos quanto a esta afirmação há certo consenso. No entanto, para que a temática da interdisciplinaridade não venha também a se configurar nesse discurso da “verdade absoluta”, incorrendo no mesmo erro, é saudável que haja contrapontos, ainda que estes venham a defender um retorno à lógica cartesiana. Já que, nesse sentido, estaremos sempre sendo impelidos a uma constante reflexão, discussão e crítica acerca do tema, de forma a criar solo fértil para a construção do mesmo. 


Logo, presumo que a pergunta que consiste no título da presente reflexão não pôde ser respondida, o que de início já sabia tratar-se de uma grande pretensão, uma vez que um tema como este requer constante e profunda discussão e interlocução entre muitas “vozes”. De todo modo, sempre estará distante de encarar sua completude e consenso – ainda bem –, esse que pode ser considerado um traço permanente – o único, assim espera-se – das discussões em torno dos importantes e complexos temas. Porém, a despeito dos inúmeros conceitos criados para dar conta da sua compreensão, das discussões mais profundas sobre a produção do conceito, bem como as divergências quanto aos seus limites, faz-se necessária e imprescindível a constante discussão, como esta aqui proposta, para que, assim como a própria interdisciplinaridade propõe, possa sempre estar havendo a troca, o diálogo, a percepção de limites, assim como o acolhimento das contribuições de outras perspectivas a fim de uma construção acerca do presente conceito.




Referências

ALVES, R.; BRASILEIRO, M. C.; BRITO, S. M. O. (2004).  Interdisciplinaridade: um conceito em construção. Episteme, Porto Alegre, n. 19, p. 139-148, jul./dez. 2004.

CARLOS, J. G. (2007). Interdisciplinaridade no Ensino Médio: desafios e potencialidades. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências. CAPES.

PEREIRA, M. A.; SIQUEIRA, H. S. (1995). A Interdisciplinaridade como superação da fragmentação. In: Uma nova perspectiva sob a ótica da interdisciplinaridade. Caderno de Pesquisa, n.68, Setembro de 1995. Programa de pós-graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Maria – UFSM.













Leia mais...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dilma: demônio ou mártir?

                             
Charge do Alpino



"...a disputa nas eleições não é uma questão de mocinhos X vilões, até porque identificar quem são os mocinhos e quem são os vilões é uma questão um tanto relativa e difícil, principalmente em se tratando desse contexto."
Aqui estou eu novamente escrevendo sobre política, talvez não o faça com a competência necessária - ao menos conto com a sorte de não pretender nenhuma carreira de analista política -, no entanto, procuro compensar meu conhecimento pouco especializado sobre o assunto com o meu vívido interesse, a busca de informações e uma perspectiva crítica. O motivo pelo qual escrevo é o resultado da junção da minha ressaca ao primeiro debate no 2º turno - realizado ontem - e uma avalanche de e-mails que tenho recebido ultimamente a respeitos dos candidatos à presidência. Hoje, dois deles muito me inquietaram. O primeiro mostrava a charge acima com a seguinte frase "VEJAM, É MUITO ENGRAÇADO!". O segundo, intitulado "PSDB 3 SEMANAS ATRÁS", era...bem, melhor que o leiam, qualquer descrição que eu fizer estará aquém de suas nuances e aspectos implícitos:

To: [Psicologia: 3195] FW: PSDB 3 SEMANAS ATRÁS‏
Está tudo perdido. O que faremos ?
Não tem mais jeito. A rejeição do Serra é grande. Marina não cresce, como vamos ao 2 turno ?
IDEIA: Marina não tem muita rejeição, vamos bombardear a internet de boatos religiosos    para 
que evangélicos e católicos tradicionais migrem para a Marina e assim aumente o número dos votos válidos.
CHEQUE MATE – Dilma diz nem Cristo tira essa vitória.
Sim.., mas cadÊ o vídeo que provar isso ?? Não temos !
Vamos dizer que foi em uma entrevista ! isso vai se espalhar e vão tomar como verdade, eles são manipuláveis !
OBS: DILMA VIVE CERCADA DE CÂMERAS E GRAVADORES DE RÁDIO E ATÉ HOJE NÃO ENCONTRARAM ELA DIZENDO ISSO !!!
Vamos dizer que ela é aborteira.
Mas ela é contra!!!
Não importa, espalhem !!!
Peguem um vídeo onde ela fala sobre tratamento pós aborto em vítimas que abortaram em casa e induzam eles com comentários nos vídeos !!!
Mas lá ela diz que “ Nenhuma mulher acha aborto uma maravilha”.
Eles não vão notar... você vai ver... Espalhem
Terminou ?
Não.... espalhem mais coisa.... Falem do vice dela... falem da doença dela..
Mas e as provas?
Eles não vão atrás !!!!
03 DE OUTUBRO DE 2010
VOTAÇÃO DE MARINA LEVA SERRA AO 2 TURNO
CHEQUE MATE...
NOS AGUARDE,... EM BREVE....
O PSDB VAI VOLTAR... VOCÊ VAI VER....
FHC
FOME
PRIVATIZAÇÃO
ESQUECIMENTO DO NORDESTE
DESEMPREGO
INFLAÇÃO
SUCATEAMENTO DA FACULDADES
CONCURSOS PÚBLICO ? RÁ, NEM TÃO CEDO
PETROBRÁS ? TÁ BOMBANDO, QUER COMPRAR?


****

A julgar pelo enorme número de contatos em ambos os e-mails, os mesmos já deviam estar em ampla circulação. Após lê-los, tamanho o meu incômodo, decidi respondê-los (ao grupo). Segue a resposta na íntegra:

RE: [Psicologia: 3195] FW: PSDB 3 SEMANAS ATRÁS‏
Primeiramente, acho bastante positiva a crescente participação dos jovens nas discussões políticas.
Quanto aos últimos acontecimentos nessas eleições, vejo com certa preocupação essa "política de extremos" que se tem feito, arrisco até dizer que a mesma pode ser muito perigosa ao favorecer a alienação dos eleitores.
Na minha opinião de eleitora comum, a atitude do PT e sua candidata, com seu discurso de "vitimização", é tão lamentável quanto a atitude "acusadora"  e vil do PSDB e seu candidato. Se por um lado esses têm se esforçado - e não há dúvidas sobre isso - para pintar a candidata do PT como um demônio a ser exorcizado da corrida presidencial, se valendo de falsos "valores" e boatos (que até onde se sabe não foram provados); por outro, o PT e sua candidata têm recorrido ao extremo oposto, ao se colocar como vítima de uma verdadeira conspiração, e por isso mesmo como uma verdadeira "mártir", mãe do povo brasileiro (ao lado do pai, que é o Lula), que está sendo perseguida simplesmente por defender "até a morte" o direito dos filhos do Brasil (que por tese seríamos nós). Não nos enganemos, eles (o PT) também estão sabendo tirar proveito da situação.
Respeito as convicções, os valores, as manifestações e a opção de candidato de cada um; afinal, isso é democaria. Acredito mesmo que nosso voto deve ser orientado, não só pela capacidade que temos de analisar a melhor proposta, mas também pelos nossos valores, ideologias e até mesmo nossas paixões. A discussão é saudável; é desejável que todo governo ou proposta tenha seu contraponto, caso contrário correríamos o risco de adentrarmos no totalitarismo. No entanto, é lamentável que a maioria dos eleitores - inocentes, eu diria - estejam acompanhando seus candidatos no mesmo tipo de jogo sujo. Essa campanha eleitoral tem causado o efeito de envolver os eleitores no mesmo embate ofensivo que observamos entre os candidatos, porém pobre de argumentos relevantes. Que fique claro que não estou argumentando a favor de nenhum dos candidatos, estou apenas lamentando a ausência de propostas de ambos e a manipulação dos mesmos no sentido de desviar, a nós eleitores, dos assuntos que realmente merecem a nossa atenção, ou seja, suas propostas para governar o nosso país.
Não votarei em nenhum deles, pelo menos essa é a minha decisão até o momento. Meus motivos não estão pautados na discussão hipócrita (de ambas as partes) sobre o aborto, nem tampouco sobre as questões religiosas, ou boatos. Mas simplesmente porque eles se preocuparam de menos com o debate e priorizaram o embate e a manipulação dos eleitores, os quais parece ser a última coisa que lhes importam, caso contrário, estariam conduzindo a campanha eleitoral de uma forma mais responsável. Pois se espalharam irresponsavelmente boatos sobre a Dilma, a atitude desta em explicar isso acusando o candidato rival, e até revelando a forma como ele "arquitetou" tudo, é igualmente irresponsável.
Meu apelo é que, independente de qual seja sua opção de voto, que a mesma não seja influenciada somente pela nossa "paixão" e por essa briga entre os candidatos. Que não tomemos as críticas aos nossos candidatos como se fosse uma crítica pessoal e não entremos nesse jogo. Mas que possamos discutir a política e as eleições de forma autêntica e utilizando argumentos válidos - as propostas dos candidatos -  e não apenas reproduzindo (quase que de modo automático) essas "correntes" de conteúdo questionável que têm circulado. Pensemos nos aspectos positivos e negativos de cada candidato - ou governo (FHC ou Lula), se preferir, já que nem a Dilma nem o Serra se preocuparam em apresentar propostas futuras e apenas trataram de comparar exaustivamente os governos passados.  Não sejamos igênuos, se o governo FHC representou pouco desenvolvimento, o governo Lula representou a corrupção desenfreada, e antes que alguém queira me atacar por tal afirmação, aviso que isso não é nenhuma crítica. Apenas estou colocando a situação para reflexão e tentando demonstrar que a disputa nas eleições não é uma questão de mocinhos X vilões, até porque identificar quem são os mocinhos e quem são os vilões é uma questão um tanto relativa e difícil, principalmente em se tratando desse contexto.
Cordialmente,
Jacqueline de Melo e Silva                                                                                
****
Pois bem, dadas as circunstâncias atuais, há quem afirmará que a minha resposta não foi reflexão nenhuma, e sim mais uma defesa acalorada - e disfarçada - de uma eleitora do candidato "ofendido". Não tenho por que me justificar, o e-mail deixa bem clara a minha opção de voto - nulo. Mas se alguém afirmar se tratar de um desabafo que expressa a imensa insatisfação com a postura dos candidatos e toda a campanha eleitoral, aqui estarei declarando o mea culpa. 

Depois de todos os aspectos da "política de extremos", já mencionados acima, acrescido da imagem do Serra, que a fim de demonstrar sua simpatia e humildade já prefere - segundo as "más" línguas - ser chamado de "Zé", e que no auge de sua identificação com o eleitorado declarou-se "nordestino de coração" (no dia do nordestino na Bahia); bem como da candidata Dilma, rezando de joelhos no santuário de Aparecida, disposta a revelar sua inédita devoção; os sentimentos que ficam são de decepção e indignação. Não tenho a pretensão de julgar defeitos nem qualidades de nenhum dos dois candidatos, até mesmo porque, seguramente, não seria a melhor pessoa para isso. Mas, ao menos, gostaria de poder ver candidatos que são pessoas de verdade, humanos, com acertos e muitos erros, e não personagens construídos, que orientam TODAS suas ações na campanham eleitoral pelos resultados das pesquisas qualitativas de aprovação - ou não - dos eleitores.Após enviar minha resposta - e só depois, acredite se quiser -, li um texto que trata a mesma temática e revela a decepção de grande parte dos eleitores com esta campanha. Acho que nem preciso dizer que dispenso comparações, afinal, o mesmo foi escrito por Eliane Brum, a qual escreve com sensibilidade e profundidade indescritíveis. Mas confesso que fiquei, de certo modo, lisonjeada por saber que os sentimentos despertados em mim por esta corrida "suja" dos presidenciáveis são também comuns a ela, que pediu "Menos leviandade, por favor". Obviamente, ela conseguiu traduzi-los de uma forma infinitamente mais rica. Na ocasião da minha resposta ao e-mail não me ocorreu a palavra exata, agora, tenho mais clareza disso, ali eu também pedia por menos "leviandade", não só aos candidatos, mas igualmente aos seus eleitores, principalmente aos "militantes" passionais que escrevem, espalham, falam, discutem, e até brigam sem saber ao certo pelo que estão lutando. Quanto ao texto da Eliane Brum, se quiser conferi-lo - e vale muito a pena - clique aqui
Leia mais...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A #conselheira de @joseserra_: Uma historinha de twitter



@dreaminbela: "Quem segue meus conselhos vai pro segundo turno! Hihi "


Como "boa" tuiteira que sou, quero dizer, como tuiteira disciplinada que sou, (ultimamente parece ser a única coisa para a qual tenho disciplina) costumo acompanhar com atenção o desenrolar da trama construída nos 140 caracteres dos meus "Following's". Estava eu na madrugada, em companhia da minha insônia e dividida entre as habituais leituras noturnas e os tweets da vida, quando me deparei com um tweet de agradecimento do candidato à presidência José Serra, o qual me chamou a atenção.

Não é novidade que política é um dos assuntos de meu interesse, e nesses últimos dias tenho dedicado-lhe maior atenção, o bastante para perceber a participação do twitter como uma importante ferramenta na campanha eleitoral, seja pela utilização do mesmo pelos candidatos, ou pelos seus eleitores. Encontramos desde discussões relevantes, até manifestações radicais de apoio aos candidatos. Há os que colocam suas opiniões e expressam sua opção de candidato; há os que iniciam verdadeiras discussões a respeito das propostas dos candidatos; há os que fazem suas piadas; há os que prostestam contra a corrupção no país. Vemos os mais variados tipos de expressões. Nessas eleições vimos até o surgimento de uma nova categoria: os cabos eleitorais virtuais, cujo trabalho se assemelha a função já exercida pelos cabos eleitorais já conhecidos. São os responsáveis por passar o dia tentando seduzir possíveis novos eleitores a votar no candidato para quem trabalham, defendê-lo de qualquer ofensa ou informação (in) verídica que esteja circulando, e até mesmo criticar os candidatos rivais.

Particularmente, vejo com bons olhos todo esse fenômeno, acredito até que as discussões políticas no universo de twitter atraíram a maior atenção e atuação dos jovens na política, estão aí os quase 20 milhões de votos que a candidata Marina Silva do PV recebeu e que não me deixam mentir. Ela que percebeu no twitter um canal direto e efetivo de diálogo com a população mais jovem. Eis a função do twitter que julgo mais positiva nesse contexto: o fato dele ter proporcionado o diálogo direto entre os candidatos e seus eleitores, bem como a discussão. Com exceção daqueles que o utiliza(ram) como meio de manifestações preconceituosas, ataques pessoais aos candidatos e reações um tanto desrespeitosas a todos que expressaram opiniões contrárias as suas, atitude esta que em nada faz referência ao processo democrático e à legítima discussão política. 

Bem, a discussão sobre o uso do twitter nas eleições é um assunto que ainda renderia generosas linhas aqui, mas retornando ao início, em que comentava uma frase do candidato José Serra, segue-se, portanto, o desfecho; (eu sei que você está pensando: finalmente!).
A frase me inspirou a contar uma "historinha" no twitter baseada nos tweets reais relacionados a mesma (confesso que, no início, apenas com a finalidade de encontrar o sono). Acredito que agora, com maior clareza, ela possa ilustrar a questão sobre a qual tentei escrever há pouco. Por este motivo, decidi trazê-la aqui. Desde já, quero registrar que não se trata de uma crítica, nem tampouco de uma ação militante em prol do candidato mencionado.

P.S.: Se você é um leitor não familizariado com o twitter, dois conselhos:
1) Mesmo que você não queira usá-lo, seria razoável ao menos dar uma pesquisada sobre o que se trata; Sugestão: http://www.blogpaedia.com.br/2009/03/o-twitter-explicado-para-iniciantes.html
2) Se você é uma daquelas pessoas que cultivam o curioso hábito de começar um livro pelo final, faça-o aqui também, mas saiba que você estará lendo o início da história. Essa é uma das característica do twitter, a trama se desenrola de trás para frente.



                                                
Leia mais...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Diário de um recém-formado


 

Imaginei um zilhão de temas para o meu primeiro post e inauguração do blog, no entanto, surgiu uma questão mais premente e tive, por ora, que prescindir dos planos iniciais. Devo advertir que, devido ao seu caráter emergencial, o texto a seguir poderá soar um tanto dramático. A inspiração primeira do mesmo surgiu em função de uma solicitação (exigência)  da querida amiga, e quase única seguidora no blog, Jacyara Faustino (@jacyarafaustino), a quem eu dedico o post e, desde já, prometo pitadas “hilárias” de mau-humor - estas últimas, palavras dela.

Parece mesmo que foi ontem que ingressei na faculdade. O alívio, a euforia, a ansiedade e a incerteza frente ao novo eram sentimentos comuns, acredito eu, à maioria dos que embarcavam nessa nova jornada. Recordo-me bem que, no segundo dia de aula, encontrei dois dos meus professores do ensino médio, aparentemente felizes por minha nova conquista, parabenizaram-me e, logo depois, um deles proferiu em tom catedrático a seguinte frase: “faculdade é isso, você reza pra entrar e reza pra sair” (sic.). Pensei comigo que não poderia haver melhor estímulo a um recente universitário (e sim, estou sendo irônica). A questão é que, por algum motivo, essa lembrança aparentemente tola tem invadido meus pensamentos com maior frequência do que eu gostaria.  Coloquei-me a pensar que, hoje, se tivesse a oportunidade de encontrá-lo novamente, faria outra queixa, desta vez verbalizada. Reclamaria o fato dele não ter completado a frase - porque acho mesmo que tenha ficado incompleta. Ele se esqueceu de dizer que melhor mesmo era economizar as preces para quando saísse da faculdade, pois eu iria precisar, e muito.

Na verdade, nos últimos dias, esse tem sido um tema recorrente na minha vida, ocupando boa parte dos encontros e diálogos, especialmente com amigas do tempo da faculdade. Pareceu-me que, mais do que falar, escrever a respeito seria uma boa e necessária ideia. É digno de nota que o breve relato que se segue - dos primeiros 6 meses da vida de um recém-formado - é resultado da junção de elementos autobiográficos, observações gerais, diálogos com amigos dos tempos da faculdade, minha modesta criatividade e, não esquecendo, dos monólogos daquelas pessoas que sentam ao nosso lado no ônibus, puxam conversa, e contam toda sua vida antes mesmo que possamos esboçar qualquer reação. As fontes diversas são o motivo pelo qual o farei na 3ª pessoa, espero que a explicação anterior sirva para descartar a hipótese de distúrbio de (des)personalidade em relação à minha pessoa.

No 1º MÊS – É só alegria! Com exceção de alguns poucos que já estão empregados, acabaram de passar em um concurso, ou já engataram o mestrado dos sonhos, os demais procuram não ter grandes preocupações, e nem deveriam, afinal, poderão finalmente usufruir as merecidas férias; que só não são perfeitas pela detecção do início de uma leve pressão imbuída nas perguntas de familiares – “Já tem algo em vista?”.

No 2º MÊS – Hora de retornar à rotina e fazer planos. Iniciam-se as buscas frenéticas nos sites de emprego, as consultas aos concursos previstos, e a análise daquela pós-graduação pretendida. Até então, você faz questão de repetir a si mesmo: “tudo sob controle”. Você está convencido de que tudo é uma questão de tempo e as coisas vão acontecer, então fica a imaginar como será o emprego tão desejado, que, é claro, virá acompanhado de um salário também desejado.

No 3º MÊS – Você faz um concurso e chega muito perto (mesmo) da aprovação, mas não foi dessa vez. Então, repete o feito a todos que perguntam como você está na tentativa de racionalizar o que, no fundo, você vê como uma “pisada na bola”. Quanto à pergunta que mencionei no relato do primeiro mês, ela permanece, mas com uma "pequena" alteração que, creia, faz toda a diferença: “Já está trabalhando”?.

No 4º MÊS – A esta altura não dá mais para se enganar, você já está caminhando rumo ao desespero. Você volta lá aos sites nos quais cadastrou o currículo e, por um momento, se enche de esperança; há uma vaga! Não é exatamente o que você tinha em mente, mas... Então, em seguida você experimenta um misto de espanto, frustração e revolta, ao ver que o salário beira o ridículo. Não foi para isso que estudou tanto, e ainda continua estudando, você pensa.

No 5º MÊS – Você resiste ao sentimento de fracasso, e busca uma espécie de reequilíbrio do tipo “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Você cansou de justificar o porquê de ainda não estar trabalhando – “não surgiu a oportunidade certa para mim”; “é ano de eleição e os concursos ficaram escassos”; ou melhor/pior (ao estilo você decide) “estou analisando algumas propostas”. Por outro lado, ainda não cansaram de fazer a mesma perguntinha, acho que não é necessário repeti-la, você já a escutou mais do que o tolerável. De repente, está em frente ao computador e aquela lista antiga de músicas começa a tocar, você não consegue conter as lágrimas ao escutar “Já é” do Lulu Santos. (Está bem, em solidariedade a você que não se lembra da música, aqui vai o trecho mais crítico, aquele que toca na ferida: “Sei lá/ tem dias que a gente olha pra si/ e se pergunta se é mesmo isso aí/ que a gente achou que ia ser/ quando a gente crescer...”).

No 6º MÊS – Agora não dá mais para disfarçar, nem para si, nem para os outros, você realmente sente-se frustrado. As pessoas ligam para você e a primeira coisa que perguntam é: “estava dormindo?”; como se a palavra desempregado fosse o mais novo sinônimo para o indivíduo que sofre de hipersonia. Sua irmã, que ainda é universitária e mais parece um executivo de alto escalão da Wall Street de tão ocupada, trata de dar uma melhorada no seu humor e estima e diz: “Tão inteligente minha irmã, só precisa arrumar um trabalho”. A fim de evitar cometer qualquer crime passional, você resolve espairecer indo a festa de aniversário da sobrinha do seu cunhado, em um devaneio você pensa que, se nada surgir de imediato, ainda tem a alternativa de poder fazer um bico como ajudante de palhaço de festa infantil. A fantasia de bila bilu (elefante rosa do DVD da Xuxa) nem lhe cairia tão mal assim.

Bem, espero não ter que continuar a escrever neste diário, pelo menos não nessa perspectiva, com sorte - considerando que a esperança é a última que morre -, o tema se transformará nos próximos dias ou semanas (recuso-me a escrever meses).
P.S. (que, com certeza, não é o "Eu Te Amo"): Para quem não é bom entendedor, ao qual meia palavra basta, esclareço: além de tudo o mais sobre o que pretendi falar, este texto serve para avisar - as palavras alertar e ameaçar também se aplicam - que não é aconselhável perguntar a um recém-formado sobre o que ele está fazendo, ou mais gravemente, se já está trabalhando, correndo-se o risco de, na melhor das hipóteses, receber uma resposta pouco educada e, na pior delas, presenciar um surto psicótico do indivíduo. Para a sorte de todos que me perguntaram, eu ainda contava com a alternativa de escrever.

Humor (negro) à parte, penso que o texto trata de uma questão importante: a angústia legítima própria a essa fase da vida. Creio que numa outra perspectiva, despida da conotação hiperbólica, poderá servir a uma boa reflexão. Se lhe interessa, buscarei pensar alguns aspectos a esse respeito em um próximo texto. Junta-se a mim?
Leia mais...